A ABECS do presente e do futuro

A ABECS do presente e do futuro
Por Thiago Ingrassia Pereira[1]

Thiago Ingrassia Pereira, ex-presidente da ABECS (gestão 2016-2020)
A ABECS é uma realidade. E ficou assim ao ser assumida como um projeto coletivo por Professoras e Professores da área de Ciências Sociais. O crescimento da nossa Associação é um fato marcante e se expressa em várias ações ao longo deste último período.
Sempre sustentei que a ABECS tem um compromisso histórico em ser um canal de organização e identidade daquelas e daqueles que estudam, pesquisam e, sobretudo, lecionam a disciplina de Sociologia (e afins) no contexto da Educação Básica.
A ABECS está se tornando do tamanho dos sonhos de seu grupo pioneiro e das inúmeras pessoas que foram se juntando ao projeto. Cada pessoa deixa a sua marca e ajuda a consolidar nossa Associação.
Surgida a partir de uma intensa troca de e-mails que foi o embrião da ABECS até seu Congresso de fundação, em maio de 2012 no Rio de Janeiro, passando por outros quatro Congressos Nacionais (2013, 2016, 2018 e 2020) e inúmeras atividades, chegamos a uma estrutura que garante um lugar à Associação no cenário político e acadêmico nacional.
Muito foi feito, mas há muito a fazer. A ABECS, pelos seus objetivos, área de atuação e crescimento recente, caminha para se tornar a Associação Científica com a maior capilaridade da área de Ciências Sociais do Brasil.
Isso se deve à proposta original de atuação em rede desde os primórdios da ABECS. No presente, temos 17 Unidades Regionais (URs) em atuação em 15 Estados, abarcando as cinco regiões do país. Aproximando-se de três centenas de associados(as) em dia com a tesouraria, a ABECS avança nos seus canais de comunicação, publicações – incluindo nossa Revista Científica: Cadernos da ABECS –, eventos, projetos e nas campanhas públicas (em audiências, ofícios, reuniões etc) em defesa da disciplina de Sociologia (representando o campo das Ciências Sociais ao lado da Antropologia e a Ciência Política) na Educação Básica.
Em tempos de Reforma no Ensino Médio e de ataques às Ciências Humanas nos currículos escolares no Brasil, ratifica-se a atuação de uma entidade como a ABECS, pois sua organização descentralizada nas URs permite uma genuína síntese, em nível nacional, dos esforços pela manutenção e desenvolvimento da Sociologia Escolar.
Com um “pé” na militância e outro na produção científica, a ABECS promove ações que buscam interferir no debate público, destacando a potencialidade da contribuição das Ciências Sociais na formação escolar em nosso país. Para isso, junto com o desenvolvimento de sua rede política, escolar e acadêmica, a ABECS precisa consolidar sua estrutura administrativa, com a progressiva profissionalização de suas demandas burocráticas.
Os últimos dois anos foram intensos nessa busca de, por um lado, a ABECS ser um sujeito político atuante nos debates educacionais com o foco nas Ciências Sociais. Por outro lado, esforços foram empreendidos para a regularização da entidade – quadro social, finanças, contratação de assessoria contábil, reforma estatutária e novas diretrizes para dar conta do crescimento da rede de URs.
Reconheço que o “caminho se faz caminhando” e, durante o percurso, erros e acertos são partes integrantes do que a ABECS é hoje. Tenho muito orgulho de ter estado envolvido com este projeto desde a fundação. Fui convidado pelo Prof. Flávio Sarandy para integrar a diretoria pro tempore entre 2012 e 2013. Em 2013, assumi a condição de 2º vice-presidente e participei de um momento delicado da continuidade da ABECS entre 2014 e 2015.
Em canário de incerteza, persisti ao lado de colegas que continuavam a acreditar que a ABECS deveria existir. Não foram momentos fáceis, mas, em situações assim, aprendemos muito, criamos solidariedades e redefinimos estratégias. Algumas pessoas ficaram, outras se afastaram, mas a ABECS, como ideia, estava viva. E o Congresso Nacional de 2016, em evento conjugado na UFRN (Natal), renovou nosso compromisso com essa ideia e nos colocou em movimento.
De novembro de 2016 a novembro de 2020 a ABECS cresceu. E só cresceu porque antes desse período teve o trabalho de muitas pessoas, assim como, nestes últimos quatro anos, outras se aproximaram a criaram vínculos com a Associação. Por isso, uma imensa alegria me toma nesse término de dois mandatos como presidente da ABECS.
A ABECS não é de ninguém, não tem donos(as), não pertence a um grupo específico e nem tem a pretensão de hegemonizar processos. Pelo contrário, somos uma Associação que busca agregar pessoas, ideias e ações, que se reconhece como um espaço plural, dialógico e em movimento. Temos em nossa origem a marca do colóquio, do dissenso, da crítica construtiva e do debate de ideias.
Portanto, a ABECS se renova a partir de sua nova gestão e, tenho convicção, tendo compromisso com sua história, mas, sobretudo, com seu futuro. Nossa Associação deve seguir sendo do tamanho dos sonhos daquelas e daqueles que vivem o Ensino de Ciências Sociais – na escola, na universidade, no IF, no CEFET – como ofício e militância por um mundo melhor de se viver.
O momento histórico nos exige competência, trabalho em equipe e posição firme em defesa da nossa profissão. Temos que ter orgulho de sermos Professores(as) de Ciências Sociais, de trabalharmos nas escolas, universidades e IFs, contribuindo para formar pessoas que reflitam, que sejam autônomas, problematizadoras, curiosas e inquietas.
Seguirei associado à ABECS, contribuirei no Conselho Fiscal e seguirei integrado à UR do Rio Grande do Sul. Na verdade, sigo na linha de Paulo Freire que, quando saiu da Secretaria Municipal da Educação de São Paulo, em maio de 1991, escreveu um pequeno texto intitulado: “Manifesto à maneira de quem, saindo, fica”.
Nota:
[1] Ex-Presidente Nacional da ABECS (2016/2020). Professor da UFFS Campus Erechim (RS).