Aproximando pessoas e construindo agendas – ABECS ano 8

Aproximando pessoas e construindo agendas – ABECS ano 8

Por Thiago Ingrassia Pereira*

“Participar da luta geral da sociedade pelo estabelecimento da democracia plena, entendida como a conquista de condições dignas de vida, liberdade de expressão, de organização e de existência”

A partir do dia 11 de maio de 2012, professores(as) da área de Ciências Sociais (Antropologia, Ciência Política e Sociologia) passaram a contar com uma associação com foco exclusivo nas discussões e ações sobre formação inicial e continuada docente, currículo e metodologia de ensino e, sobretudo, na defesa da disciplina de Sociologia na Educação Básica.

A construção da nossa associação ocorreu em meio ao processo de retorno da Sociologia como disciplina obrigatória por Lei no ano de 2008. Junto com possibilidades de trabalho na área e a expansão de pesquisas em nível de pós-graduação (mestrado e doutorado nas áreas de Ciências Sociais e Educação), nosso desejo era de, ao legitimar nossa área científica nos currículos escolares, contribuir para o fortalecimento da democracia brasileira, estimulando a criticidade, a problematização e a conscientização.

Por isso, a epígrafe acima é o inciso XIX do artigo 3º do Estatuto da ABECS, que trata das finalidades e objetivos da associação. A liberdade de expressão é pressuposto para o bom aproveitamento da formação em ciências humanas, o que nos leva a combater toda e qualquer forma de censura.

Construir uma associação nacional de uma área acadêmica e profissional instável e sem uma comunidade pregressa de interlocutores(as) e meios específicos que corroborassem para nossa identidade enquanto docentes, foi e segue sendo um enorme desafio. Em certo sentido, a ABECS é uma necessidade histórica da área de ensino de Ciências Sociais.

Há um livro que retrata o diálogo entre Paulo Freire e Myles Horton chamado “O caminho se faz caminhando: conversas sobre educação e mudança social”. Esse poderia ser o título de um texto sobre o aniversário de oito anos da ABECS. Seria possível escrever acerca de tudo o que construímos nesse período, assim como sobre tudo o que não fizemos. Mas prefiro escrever sobre o que temos ainda pela frente.

Todas e todos sabem que estamos em um momento muito grave para a educação brasileira, em especial, em relação ao projeto de educação pública. Isso, infelizmente, não é de hoje. Aprendemos com Darcy Ribeiro que a crise na educação brasileira não é uma crise, mas é um projeto. Dessa forma, estamos cientes de que o debate sobre o ensino de Ciências Sociais está inserido na discussão mais ampla do contexto educacional de nosso país.

Muita coisa está em jogo: nossa área de conhecimento, as possibilidades de trabalho, nossa dignidade profissional, nossa liberdade de aprender e ensinar, a construção de materiais didáticos, entre outras questões. A ABECS foi pensada como um espaço coletivo, dialógico, conectivo e atuante exatamente no enfrentamento desses dilemas históricos e conjunturais.

Por isso, aproximamos pessoas e construímos agendas. Não nos interessa apenas uma existência burocrática, mas precisamos chegar onde estão os e as colegas, seja nas escolas, nas universidades, na gestão ou nos espaços formativos não escolares. Somos uma associação de professores(as) e pesquisadores(as) que se assumem como sujeitos políticos. Portanto, não somos neutros(as) e nem temos a pretensão de meramente (re)alimentar o meio acadêmico por um lado ou fazer o discurso basista pseudomilitante de outro lado.

Nesse sentido, a ABECS não foi pensada para atuar no espaço sindical ou ser mais uma associação de pesquisa e pós-graduação. Respeitamos todas as entidades que possuem histórico de serviços prestados nestas áreas, mas pretendemos ocupar um espaço de representação e mobilização docente original. Onde estão os(as) estudantes e professores(as) da área de ensino de Ciências Sociais, lá estará a ABECS.

Há oito anos, uma associação nasceu do desejo de participação de colegas e de afirmação do que estudamos e ensinamos nas Ciências Sociais. Nasceu com a marca do colóquio, do dissenso e da crítica propositiva. Por isso, ao olhar nossa história, temos as condições de entender nosso presente e projetar nosso futuro. Temos um longo caminho a caminhar e fortalecer nossa ABECS, aperfeiçoando processos e aprofundando nossa transparência e diálogo com todos e todas.

Tenho muito orgulho por ter participado desde a lista de e-mails que originou a ABECS. Lembro vividamente do contexto da primeira Assembleia, do Seminário na UFRRJ e da reunião de fundação no auditório do Colégio Pedro II, unidade Humaitá na cidade do Rio de Janeiro. Um ano depois, em 2013, realizamos o I Congresso Nacional da ABECS em Aracaju, Sergipe. De lá para cá, realizamos outros Congressos Nacionais (Natal e Porto Alegre), algumas pessoas se distanciaram, outras se aproximaram, mas chegamos em 2020 com organização administrativa e atuação política e acadêmica.

Temos um enorme compromisso com a educação e com o ensino de Ciências Sociais. Estamos mobilizados(as) em treze (13) Unidades Regionais em onze (11) estados do país. Nossa rede segue em permanente expansão e nosso trabalho é para seguir agregando colegas estudantes e docentes que tem na área de Ciências Sociais e, sobretudo, no seu ensino um meio de vida.

A ABECS é hoje uma realidade porque foi um sonho. Seguimos sonhando e atuando por um mundo no qual as pessoas possam pensar e encontrar meios de bem viver. Vida longa à ABECS!

*Licenciado e Bacharel em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Educação pela UFRGS. Pós-Doutor em Educação pela Universidade de Lisboa. Professor da UFFS Campus Erechim. Presidente Nacional da ABECS (2018-2020).

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