Moção de apoio Nº 01/2019 – UR-Bahia/ABECS

Moção de apoio Nº 01/2019 – UR-Bahia/ABECS
Em julho de 2019 ocorreram reações públicas diante de um vídeo de uma mãe de uma estudante denunciado práticas pedagógicas supostamente doutrinárias praticadas por um professor de Sociologia do Colégio Acadêmico de Lauro de Freitas (Bahia). Diante disso, a UR-Bahia/ABECS torna pública uma moção de apoio à postura coerente da instituição de ensino no tocante a defesa do docente, da área de Sociologia e de seu arcabouço científico/epistemológico, bem como registramos nosso apoio ao docente e pelo fortalecimento da disciplina de Sociologia na escola em questão.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, uma mãe acusa de doutrinador um professor de Sociologia do Colégio Acadêmico de Lauro de Freitas por abordar a teoria de Karl Marx como pensador da modernidade. A mãe em questão afirma haver prática de doutrinação comunista/socialista, sem considerar – em nenhum momento – a construção e contribuição teórica desse importante autor para teoria social mundial.
Frente ao ocorrido, o Colégio Acadêmico de Lauro de Freitas divulgou uma nota em favor do professor, na qual refuta os argumentos da mãe. Nas redes sociais, a nota intitulada como “direito de resposta” segue com muitos comentários (de diversos estudantes apoiando a escola e os professores).
Diante disso, a ABECS Bahia manifesta solidariedade ao professor, reafirmando a importância da liberdade de cátedra, a qual é garantida pela Constituição Cidadã de 1988, em seu Art. 206. Tal dispositivo legal máximo da nação preconiza as bases dos princípios educativos, que inclui a liberdade de aprender, ensinar e pesquisar, além de divulgar o pensamento, a arte e o saber, bem como na diversidade de ideias e de concepções pedagógicas.
Infelizmente, esse tipo de ataque aos professores tem se tornado cada vez mais corriqueiro no Brasil de hoje, e, em muitos aspectos, reflete ainda a disputa eleitoral para presidente, fato que ocorreu em 2018. O ataque ideológico sofrido pelo professor no Colégio Acadêmico é reflexo desse cenário.
Não podemos nos eximir na defesa dos professores (e da educação em geral). O lugar de atuação laboral/profissional do professor está sendo alvo de discursos intolerantes. Não podemos abordar o estudo da Sociedade tratando apenas dos consensos, uma vez que os dissensos são fundamentais para o estabelecimento de novas e melhores maneiras de nos relacionar. A exclusão de determinados temas, a existência de ofensas e de ódio ou a recusa do debate acadêmico e científico nos levará à barbárie e ao autoritarismo e, dessa forma, nos distanciando de uma realidade verdadeiramente democrática e propositiva.
Cabe salientar que a Sociologia possibilita uma ampliação da visão de mundo, oferecendo uma possibilidade de localizar-se na estrutura social e assim se reconhecer como parte de um todo, pelo qual cada um é responsável. O espaço de interpretação da realidade, proporcionado pela disciplina, contribui de maneira significativa para que estudantes possam identificar relações sociais de que fazem parte, assim como entender os desafios colocados à sociedade contemporânea.
Por fim, a Sociologia (e os conteúdos de Ciências Sociais) atua para consolidar uma formação humanística, crítica e cidadã, portanto, atendendo ao que preconiza a Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/1996), bem como aresolução do Conselho Estadual de Educação da Bahia (CEE) nº 13, de 10 de fevereiro de 2009 e, especialmente, a Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) nº 1, de 15 de maio de 2009. Dessa maneira, defender a Sociologia na escola é defender uma formação ampla, democrática e livre.
Atenciosamente,
Coordenação da ABECS Bahia – [email protected]
Salvador, 01 de agosto de 2019.