Relato de experiência docente: O olhar sociológico através do rap.

O OLHAR SOCIOLÓGICO ATRAVÉS DO RAP
Dados gerais
Nome do Professor: Wesley Vaz Oliveira.
Nome da Escola ou Instituição de Ensino Superior: Escola Estadual Colégio Amapaense.
Nível e ano de ensino: 2ªano do ensino médio.
Município e Estado: Macapá, Amapá.
Tempo de duração da experiência: 4 horas.
Uma experiência no ensino de sociologia em Macapá-Ap
Olócus desta experiência ocorreu na escola pública Estadual Colégio Amapaense, em Macapá-Ap. O Colégio Amapaense é uma instituição tradicional do Estado que completou 72 anos e está inserido no Programa Nacional de Fomento à Implementação de Escolas em Tempo Integral para o Ensino Médio, do Ministério da Educação (MEC) – chamado no Amapá de Escolas do Novo Saber. Atualmente, possui 355 estudantes do ensino médio[1]. Os estudantes ficam nela das 7h30 às 17h, com direito café da manhã, almoço e lanche.
Embora esteja situada no centro da cidade de Macapá e seja circundada por instituições administrativas, órgãos federais e praças públicas, a referida unidade de ensino é composta por estudantes majoritariamente de bairros periféricos, tais como Infraero 2, Pacoval, Congós, Perpétuo Socorro, dentre outros. Além disso, também recebe alunado de municípios adjacentes à Macapá, tais como Santana, Porto Grande e Mazagão.
No plano político pedagógico e nas vias metodológicas de ensino da escola, durante o transcurso do bimestre cada docente tem o direito de cursar uma disciplina eletiva, na qual o nome e a temática da matéria é escolhida pelo professor, mas quem deve ministrar a aula é um docente convidado. “Meu bairro, minha vida” foi o nome da disciplina capitaneada pela professora Antônia Deusa Sá, que me convidou para ministrar uma aula de sociologia, com o objetivo de abordar conteúdos sociológicos com o corpus de análise no estado do Amapá.
Em 2017, estagiei durante 6 meses na referida escola sob a supervisão da professora Antônia e, em março de 2019, fui convidado por ela para ministrar aula, no formato de palestra, para os estudantes do 2ª ano do ensino médio, cujo foco seria o rap amapaense, tema da minha pesquisa de TCC, defendido no curso de Licenciatura em Sociologia, na Universidade Federal do Amapá. Pretendo, portanto, relatar tal experiência que teve como principal objetivo o despertar do olhar sociológico no ensino de sociologia através da música, especificamente da música “Macapá Quebrada”[2], do grupo de rap amapaense Máfia Nortista.
APONTAMENTOS SOBRE A ATIVIDADE
É notório que trabalhar com a disciplina de Sociologia, é trazer para a sala de aula assuntos que emergem do próprio cotidiano em que os jovens estão inseridos e daí, portanto, observa-se sua importância. Logo, a construção do conhecimento em Sociologia supõe a escolha de temáticas sociais emergentes e o entendimento das teorias sociológicas explicativas da realidade, com seus conceitos inter-relacionados (ARAÚJO; BRIDI; MOTIM, 2014).
Neste sentido, ao eleger a música “Macapá Quebrada”, busquei sobretudo analisar em que sentido a letra pode ser incorporada e usada como recurso metodológico para a análise sociológica, visto que tal canção aborda às dimensões sociais, culturais e políticas dos bairros periféricos de Macapá, possibilitando para os estudantes não somente uma compreensão crítica e desnaturalizada da realidade social, mas também uma identificação com a realidade em que estão inseridos.
A aula aconteceu no período da manhã, de 7h:30min às 12h. Utilizei como material didático o projetor de imagens Data Show, e dividi a aula em dois momentos; inicialmente, fiz uma exposição sobre a história do rap e sua dimensão educativa e de pensamento crítico; logo após, exibi o clipe da música “Macapá Quebrada”, para em seguida analisar e discutir conjuntamente com os alunos o conteúdo da letra e apreender os aspectos sociológicos e críticos presentes em seu discurso.
Figura 1 – exposição do vídeo clipe “Macapá Quebrada”, do grupo Máfia Nortista.
Fonte: Autor.
Após o primeiro momento da aula, surgiram diversas perguntas e iniciamos o debate o qual transcorreu em dois eixos centrais. O primeiro, foram os códigos de identificação dos alunos referentes aos elementos sociais e culturais da música, por exemplo, os bairros e locais da cidade de Macapá citados pelos Mc´s (aquele que canta a música rap) é o lugar onde grande parte dos alunos moram, além de que, problemáticas sociais, tais como a negligencia estatal e a violência policial na região, também foram aspectos identificados pelos discentes.
A partir disso, nosso diálogo se direcionou para o rap como possibilidade de olhar sociologicamente para a realidade social. Isto é, tanto as mazelas sociais quanto o discurso do rap traz reflexões para pensarmos às múltiplas dimensões da sociedade amapaense, propondo para o estudante um olhar desnaturalizado e crítico sobre as problemáticas sociais e de como podemos compreendê-las e questioná-las.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como resultados alcançados, depreende-se que a atividade foi exitosa, em razão dos estudantes detectarem conceitos centrais sociologia, tais como a desnaturalização, o estranhamento e o viés cientifico na análise da realidade social, através da música rap, que, conforme alega MAGRO (2002), enquanto meio de educação informal, o rap se constitui como um processo carregado de valores e representações e de transmissão de informações que suscitam a formação de uma consciência mais crítica de seus ouvintes.
Soma a isso, o fato dos discentes identificarem através da narrativa da música, não somente conceitos sociológicos isoladamente, e sim, como estes estão presentes e operam em seu cotidiano. Por último, é sabido que abordar assuntos sociológicos à luz das experiências dos alunos é uma estratégia fecunda para a sua formação crítica e cidadã, e esse foi um dos meus esforços nessa aula.
REFERÊNCIAS
BRIDI, Maria; ARAÚJO, Silvia; MOTIM, Benilde. Ensinar e aprender Sociologia. São Paulo: Contexto, 2014.
MAGRO, Viviane Melo de Mendonça. Adolescentes como autores de si próprios: cotidiano, educação e o Hip Hop. Cadernos Cedes, Campinas, v. 22, n. 57, agosto, p. 63-75, 2002.
Notas
[1] Disponível em: https://www.portal.ap.gov.br/noticia/0708/obras-no-colegio-amapaense-recebem-investimento-de-r-1-9-milhao. Acesso 8 de agosto 2020.
[2] Disponível em: http://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2017/02/rio-amazonas-pontos-turisticos-e-periferia-de-macapa-inspiram-musicas.html. Acesso 13 de agos. 2020.